Frank Howard Clark

"Um hábito é algo que você pode fazer sem pensar - e é por isso que a maioria de nós temos tantos deles."


Que belo dia pra jogar futebol!”, disse meu novo amigo, um inglês nato. Preferí não questionar a beleza do dia, nem as nuvens no céu ou a brisa de gelar, tão comuns na Terra da Rainha (afinal, deveria agradecer só por não estar chovendo!). Viciado no futebol como sou, aproveitei a chance para perguntar se eu podia jogar também, no que recebi prontamente um caloroso “sim”, que inclusive pedia para que eu fosse. Bobo fui eu de achar que recusariam ver um brasileiro em ação!

Enquanto dizíamos até breve pra irmos em nossas casas pegarmos nossas chuteiras, lembro-me de um breve comentário: “Bring your shin pads!”. Na hora, não entendi e não me importei, que grande diferença poderia fazer? Estava atrasado, mas me arrependo de não ter gasto mais alguns segundos perguntando o que era...

Chegando no parque, vejo todos de meiões e... caneleiras! Naquele exato momento, compreendi o que eram as “shin pads”. Tommy me apresentou aos outros, que criaram expectativas pra minha atuação, baseando-se apenas e unicamente na minha nacionalidade. Erro crasso, meus caros! Ofereceram-me o meio de campo ou o ataque, mas foram surpreendidos com o “Eu jogo de zagueiro”.

Primeiro lance do jogo, lançam um inglês na direita, vou na marcação, ele arma o chute e... e acerta a minha canela, em vez da bola! No chão, me perguntam: “Are you ok?”. Pelo visto, é hábito mundial esse tipo de pergunta idiota, quando é óbvio que alguém não está bem. Senti na pele, literalmente, como é apanhar jogando bola; a diferença é que sofri com porradas de atacantes e meias. Continuando, vejo um jogo de marcação, correria e muita dividida. Saio com uma vitória sem valor, mas com alguns hematomas memoráveis, além da camisa suja de lama, da chuva que havia começado pouco antes do fim da partida.

Doravante, se não me deixassem mais confiar no clima local ou esquecer a tradução de “shin pads”, eu ficaria grato!


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