Frank Howard Clark

"Um hábito é algo que você pode fazer sem pensar - e é por isso que a maioria de nós temos tantos deles."


Na última sexta-feira, 29, fui ao Canecão que, naquela noite, apresentava as duas bandas de metal brasileiras mais conhecidas no mundo, Angra e Sepultura, que estão numa turnê inédita juntos. O Angra, depois de um hiato de quase 2 anos devido a problemas administrativos internos volta com uma nova formação na qual Ricardo Confessori tomas as baquetas na banda 10 anos após seu rompimento substituindo o ligeirinho Aquiles Priester, que depois de umas porradas e outras acabou saindo da banda. E o Sepultura, que está na turnê do seu álbum mais recente, A-Lex, primeiro com o baterista Jean Dolabella no lugar de Igor Cavalera, que saiu em 2006, dez anos após a saída de seu irmão, Max.

Fui com um velho amigo, Hugo, o único disposto dos sete que convidei pra ir. É incrível como quando se trata de ir a um show de metal é sempre um parto achar companhia, por mais que eu conheça uma penca de metalheads que curtiriam muito o show, mas acabam arranjando desculpas bestas pra não ir. Por fim, Hugo sempre é a companhia pra esse tipo de lance.

Apesar de eu estar planejando a compra do ingresso a semana inteira, só fui me coçar pra arranjá-lo na véspera e, nem assim me dei ao trabalho de checar o local de venda, uma atitude realmente estúpida. Fui a mesma loja do último show que fui na casa e, depois de duas longas horas de espera pra loja abrir (atrasada) fui informado que eles não estavam vendendo. Tive que contar então com a sorte de comprar no dia, na hora que eu chegasse ao local.

Logo que cheguei comprei-os sem delongas e não me demorei a entrar. Pra quem nunca foi no Canecão, a primeira impressão é que o aumentativo no nome da marca é uma puta propaganda enganosa. O lugar é pequeno e, à primeira vista, eu não acreditaria que iria me surpreender da forma que surpreendeu.

Antes de nos dirigirmos à pista, que por sinal já estava com muita gente com uma hora pra começar o show, Hugo resolveu antes pedir alguma coisa pra comer – na pressa de sair de casa, acabou não jantando. “24 paus uma dúzia de pastéis?” – talvez por espanto ou mesmo por economia, toda fome do momento se saciou com um mero Ice Tea de R$4,40.

Como da última vez havia ficado do lado direto da pista, dessa vez optei pelo lado esquerdo – mal sabia que me arrependeria amargamente por isso.

Tentei chegar o mais próximo que podia do palco e acabei ficando do lado de uma trupe de meia dúzia de moleques visivelmente inebriados. Cogitei mudar de lugar, mas cada vez ia chegando mais gente então preferi não arriscar meu lugar relativamente perto do palco por mais que esses elementos pudessem me custar assistir ao show.

Dois minutos pras dez e Unfinished Allegro apagou as luzes e despertou as vozes do Canecão. Uma introdução instrumental que, apesar de nem ser uma composição do Angra, já se tornou um clássico por abrir o debut, Angel’s Cry, e por introduzir o mais aclamado hino da banda, Carry On. E foi ela mesmo que seguiu e – como o pessoal gosta dessa música! O mais curioso pra mim foi conferir, ao vivo, Edu Falaschi interpretando-a. Pois vos digo que ele a cantou muito bem. Exceto por deixar a platéia cantar o refrão – o que eu achei sacanagem – ele tava mandando bem na música, acho que ele agüentaria o refrão e ainda por cima iria se impor ali para todos que, assim como eu, não acreditam muito nele.

Carry On nem teve o solo e já emendou em outra queridinha dos fãs, Nova Era, que, mais uma vez, a banda executou muito bem. Seguiram com Wainting Silence e Lisbon, e foi a primeira vez que essa musica foi executada com essa formação.
A apresentação se seguiu com seus altos e baixos. Numa visão geral, aprovei a volta do Confessori, trouxe uma energia diferente à sonoridade da banda; ele é um baterista versátil que explora os sons de uma forma harmonicamente agradável de ouvir, diferente do Aquiles que era mais padronizado em suas linhas e acabava se tornando um tanto que redundante musicalmente. Já o tecladista que escolheram pra fazer a turnê me decepcionou. Além de alguns erros no andamento escolheu timbres muito inferiores aos timbres originais das músicas, o que comprometeu a apresentação. Quanto ao Edu, bem, ele oscilou. Teve seus bons momentos como em Rebirth e Spread Your Fire (que foi animal!) e outros bem fracos, como em Lisbon e Make Believe.

Mas alguns fatores externos à banda no palco acabaram contando pontos negativos pro show.

Bem no inicio da primeira musica, aqueles moleques bêbados se juntaram a outros seis pra formar uma “rodinha punk”. Bem do meu lado!! E é curioso como uma dúzia de caras que nunca sequer se viram na vida se sintam bem, pagando 40 reais, deixando de ver o show pra ficarem se agarrando, e se empurrando... daí se abraçam, se esfregam um no outro e se empurram de novo...Enfim, eu tinha que ficar atento na roda pra me proteger porque volta e meia caia um perto de mim que eu tinha que devolver com um empurrão.

Outro fator contra foi a iluminação que, a princípio eu achei que fosse por conta do local que não tinha uma infra-estrutura adequada mas, depois do show do Sepultura, vi que era do técnico da iluminação mesmo. A nitidez do som também deixou a desejar, mas isso acredito ser por conta de eu esta onde estava e o som tava bem saturado.

Fim de show, prioridade – sair dali pra assistir ao show do Sepultura com pessoas que estavam realmente a fim de curtir o espetáculo e não sua própria embriaguez.

Andando até achar um lugar melhor reparei no público que tava presente ali. Além de claro, o estereótipo. Tinha gente de todas as idades, desde senhoras sessentonas até garotinhos de 3 (eu falo sério, não é uma piada com a idade mental dos participantes da roda, esses eu diria ter idade mental de um espermatozóide) o que a principio achei irresponsabilidade dos pais perante a saúde do menino mas no final do show do Sepultura vi o mesmo moleque com um protetor auricular fazendo um chifrinho com os dedo, haha, true.

Um pouco depois de acharmos um lugar um pouco menos tumultuado bem de frente para o palco mas mais distante, as luzes se apagaram, sobrando apenas uma focalizando um enorme bandeirão com a capa do novo disco estampada e a sinfonia de abertura, “A-Lex I”, entoava abafada pelos gritos ensandecidos da platéia. Ao fim da mesma era como se eu fosse o homem aranha quando seus sensores predizem que tem porrada a caminho. E não foi diferente, mas invés de me esquivar (como boa parte dos fãs de Angra), a reação instintiva foi pular o mais alto que pude acompanhando o mar de gente que delirava ao som de Moloko Mesto. A essa altura já estava completamente convencido de que a troca de lugar foi um bom negócio. O êxodo nos proporcionou uma visão muito mais ampla (justamente por estar mais afastado), o som extremamente mais definido, uma iluminação fantástica, que captava bem a atmosfera da música e o melhor, longe da roda, que essa hora já devia ter triplicado seu diâmetro.

Confesso que não sou um grande entendedor de Sepultura, mas isso não foi problema de jeito algum. A banda apresentou ao vivo tudo que eu esperava: um som agressivo, autentico, empolgante, grooveado e muito, muito pesado. Os caras são ótimos músicos individualmente e, como banda, se mostram igualmente coesos, seguros e felizes com o que estão fazendo. Um adendo especial para o Jean Dolabella, que me impressionou de mais, principalmente na releitura dos clássicos, como quão abrangente um batera pode ser a partir de um kit relativamente simples.

O show seguiu e as impressões iniciais prevaleceram. Depois da curta e grossa Conform, fecharam com o clássico dos clássicos “Roots Bloody Roots”.

Enquanto os desavisados seguiam para a saída as luzes voltam e Andreas anuncia que vai rolar mais coisa, surpreendendo os sem-internet. Ao passo que as pessoas voltavam aos seus lugares, o Angra volta e ao lado do Sepultura fazem um cover de Immigrant Song, do Led Zeppelin com Jean na bateria e Paranoid, Black Sabbath com Confessori. De destaque nessas duas versões eu aponto só os solos de guitarra mesmo, que teve meio que um duelo entre os três guitarristas. Empolgante mas nada de extraordinário.

Um belo final pra um acontecimento na metalosfera nacional que muitos, como eu, estavam muito ansiosos pra ver. No mais, digo-lhes que o Angra fez um bom trabalho, mas o Sepultura apavorou! Se esse espetáculo passar pela sua cidade, vá, assista porque vale muito a pena.

1 comentários:

É isso que eu vou fazer, ver esse show que realmente deve ser ótimo.
Não posso perder uma coisa dessa neh?
E seu blog é muito bom cara parabéns!!!