Frank Howard Clark

"Um hábito é algo que você pode fazer sem pensar - e é por isso que a maioria de nós temos tantos deles."


Dizer que o Uruguai foi campeão da Copa América por acaso só pode ser recalque ou falta de conhecimento sobre o que está falando. O Uruguai não chegou por acaso à final e não conquistou o título, desculpe a repetição, por puro acaso; mas sim por competência. Quanto ao Paraguai, os Deuses do futebol não iriam cometer a injustiça de dar um título à uma equipe que joga de forma feia, para empatar e só consegue vencer nos pênaltis. O Paraguai tem lá seus méritos pelo vice-campeonato, mas seu sucesso na Argentina foi mais pela incompetência de seus adversários do que por suas qualidades.

Em 90 minutos, o Uruguai conseguiu o que a Seleção Brasileira não fez em 120; ou seja, marcar três gols. Sem soberba, o Uruguai sabia de seus limites e tinha jogadores mais comprometidos com o futebol do que com o penteado, como muito dos nossos atletas.

Deixemos o Paraguai de lado, e até mesmo a Seleção da CBF, que cada vez mais afasta o povo. Falemos da Celeste Olímpica, que desperta de um sono profundo, que tal qual a fênix retorna das cinzas, só que desta vez, espero que seja para sempre.

Ah, antes que eu me esqueça, caro leitor; o Uruguai não tem o futebol mais talentoso do mundo e muito menos da América do Sul. Em qualidade técnica está um degrau abaixo de Brasil e Argentina; mas em relação ao peso da camisa, não existe diferença para as outras duas seleções. A camisa uruguaia pesa, chega a jogar sozinha, que o diga o mediano goleiro Muslera na partida contra os argentinos, quando fechou o gol.

O sucesso do Uruguai começou em 2006, quando Oscar Tabárez assumiu o comando da seleção. Naquele 9 de março, ao ouvir as palavras do treinador como seu novo comandante, o torcedor via ali um líder nato, alguém que poderia levar o Uruguai novamente de volta ao caminho dos gigantes do futebol mundial.

Assim que assumiu, Tabárez prometeu que os jogadores voltariam a ter amor pela camisa Celeste e o principal: prometeu aproximar a seleção do torcedor. A inteligência do comandante uruguaio não se restringe aos aspectos táticos e técnicos. O treinador também ficou responsável sob as divisões de base e a ordem era "quem não estuda, não joga". Tabárez vai além de 95% dos treinadores brasileiros. Além de criar um jogador, também transforma homens e seres humanos. Revolucionou o futebol uruguaio em todos sentidos, até mesmo na mentalidade de dirigentes.

Em um país de pouco mais de 3 milhões de habitantes, Oscar Tabárez conseguiu colocar na cabeça dos atletas que eles tinham que jogar por aquele pequeno país, por aquela sofrida população. Mais do que isso, formou um grupo, de qualidade técnica até certo ponto duvidosa, mas de autoconfiança e vontade de vencer acima da média. Quando as três coisas se juntam, somados ao peso da camisa; não há quem segure.

Mas o Uruguai não é só vontade e vigor físico. Ah o Uruguai... país que teve Ladislao Mazurkiewics, um dos maiores goleiros de todos os tempos; que teve jogadores de qualidade acima da média como Hugo de León, capitão no título da Libertadores de 1983, conquistado pelo Grêmio; Uruguai de Darío Pereyra, meia de rara habilidade, que fez sucesso no São Paulo e atuou como quarto zagueiro no final da carreira e de forma não menos brilhante. Ah o Uruguai... Uruguai de Paolo Monteiro, zagueiro que fez sucesso pela Juventus, da Itália, na década de 1990; de Pedro Rocha, mais conhecido como Verdugo, pois aliava a habilidade brasileira com a raça uruguaia. Não podemos esquecer de Ghiggia, autor do gol da maior tragédia do futebol brasileiro, em 1950.

Não caríssimo leitor, o Uruguai não teve só força, vontade e vigor, como pensam alguns. O que falar da qualidade de jogadores como Enzo Francescoli, o "El Príncipe", único uruguaio incluído por Pelé na lista dos 100 maiores de todos os tempos? O que falar de Pablo "El Professor" Bengoechea? De Rubén Sosa? O que falar do Uruguai que, na minha humilde opinião, possui a melhor dupla de atacantes do planeta, formada por Diego Forlán e Luiz Suárez, que aliam técnica e raça?

Agora sim, falando em vigor físico, além da tradicional raça uruguaia, quem contesta defensores como Diego Lugano e Pablo Forlán, pai do atual camisa 10 da seleção? Difícil...

Mas o Uruguai também tem lá seus enganadores como Diogo, Pablo García, Zalayeta, Álvaro Recoba, o goleiro Carini e até Sebástian ''El Loco'' Abreu, que vivem mais da fama do que do futebol, embora não sejam péssimos atletas.

O saldo total é de recuperação da moral de uma das maiores seleções do planeta. Quarto colocado na Copa do Mundo da África do Sul, em 2010; maior vencedor da Copa América, 15 no total com o título conquistado neste domingo, 24 de julho; classificado para os Jogos Olímpicos de Londres, ano que vem, algo que não acontecia desde 1928; e, apesar da crise financeira que assola os clubes do país, teve o Peñarol como vice-campeão da Copa Libertadores deste ano. Saldo mais do que positivo.

Este é o Uruguai. Primeiro campeão do mundo, em 1930, repetindo a façanha no Brasil, em 1950. Bicampeão mundial olímpico em 1924 e 1928. O Uruguai renasceu, saiu do mundo dos mortos.

Até aceito quando dizem que não há mais bobo no futebol; mas não me venham falar que hoje em dia uma camisa não pesa. A do Uruguai pesa e não é pouco.

Já perguntaram se eu acredito em um novo ''Maracanazo''. Sem ficar em cima do muro eu ainda acho que o gigante não despertou por completo, mas não me surpreenderia caso o episódio se repetisse em 2014; pois torno a dizer: esta camisa Celeste pesa demais.

Foram acordar um gigante. Para fazê-lo dormir novamente vai ser preciso mais do que a técnica. Será preciso ter mais vontade que os uruguaios têm ao vestir a camisa Celeste.

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